Quem conhece a estrutura de uma prova off road, sabe do carinho como cada uma delas é preparada, com antecedência, levantamento de trajetos, médias de velocidade, visuais.
Conversamos com uma peça-chave na elaboração do desafiante Ipês Off Road (ele também atua com destaque no Enduro da Independência) Reginaldo Barbosa Fernandes, 45 anos, o Reginaldo “Jornal”.
A primeira pergunta é óbvia: por que o apelido Jornal? “Apelido da turma, sem motivo específico, conversa fiada da galera na trilha, não tem muita história não”, despista Reginaldo.
Confira esse bate-papo especial com ele, que já antecipa: “o Ipês Off Road 2022 será um grande sucesso!”
Como você entrou nessa história, participar das organização de provas off road?
Eu sempre gostei de moto, de esporte de duas rodas, especificamente de trilha desde criança. Eu morava no sítio e via as motos de trilha passando lá pelos anos de 1986 e 1987, quando eu tinha 10, 11 anos e sempre gostei. Quando eu consegui comprar uma, comecei numa XR200 lá em 2004, foi minha primeira trilha. Desde lá, eu não parei mais. Eu fui criado na zona rural de Perdões e hoje moro em Lavras. Perdões fica a 25 km de Lavras.
Como entrou nessa história de prova, de ajudar o pessoal nessa parte, como foi?
Eu sempre gostei do Enduro de Regularidade, pesquisava e passei a conhecer o pessoal de lá, o próprio Lúcio (Pinto Ribeiro, coordenador), Rodrigo Maciel, que foi um dos organizadores antes do Lúcio. Quando eu comecei a andar de moto, falei que queria fazer enduro, estudava como se navegava, como se faz a leitura de planilha, como é desenhado o trecho. Às vezes comecei na Regularidade antes até de aprender a andar de moto.
Minha primeira prova de regularidade foi o Ipês em 2004, organizado pelo Rodrigo Maciel. Correndo na Categoria Júnior, fora da minha categoria, o ideal seria a novato. Tinha só um mês que eu andava de moto e me aventurei sem os equipamentos adequados. Não fiquei bem, terminei lá pelos últimos lugares. Não dei conta de terminar a prova por condicionamento físico, por perder a planilha. A partir daí eu passo a participar da Copa Sul Mineira, algumas provas do Campeonato Mineiro, até do Brasileiro.
Quanto tempo está na turma que organiza o Ipês Off Road?
Com a parte técnica desde 2010, com a conferência de planilha e contribuindo com a parte técnica geral da prova, com sugestões e objetivo de melhorar. Além disso, faço a abertura da prova no dia.
Como é esse trabalho de antes da prova, quantas vezes vocês têm que ir à trilha?
Ocorre um pré-levantamento, fazer a passagem inicial dos caminhos que pretendem ser utilizados. A gente faz isso junto. Depois, eu desenho na planilha, que seria uma segunda passagem pelo trajeto da prova. Em seguida, a conferência de planilhas com relação a desenho e hodômetro. E a próxima etapa seria a conferência das médias nos trechos.
A metodologia de trabalho, tanto na conferência do Ipês como do Enduro da Independência: saímos muito cedo, sem pressa e vamos andar de moto dentro do limite do condicionamento físico. Normalmente, até escurecer. Em alguns casos, não comprometendo a parte técnica, também um pouquinho à noite.
Por exemplo: um dia de cinco horas de prova é, no mínimo, o dobro de tempo para conferir. Se a planilha final tem 5h30 são no mínimo 11,12 horas para conferir quando dá certo com equipamento, trajeto, moto. Se fugir um pouquinho, aí esse tempo aumenta.
Que características a gente pode destacar do percurso, da trilha?
A característica dos Enduros dos Ipês é pela topografia e pelas características do terreno na região, pessoal do Brasil todo conhece. A gente vem adequando, estamos conversando muito da parte técnica. O esporte sofre adequações, visando à integridade física dos participantes, mesclando muitas trilhas e colocando o trajeto a média da planilha compatível com cada categoria. Essa tem sido umas das nossas preocupações nos últimos tempos.
E do Ipês Off Road deste ano, dias 30 de abril e 1º de maio, o que podemos falar?
O Lúcio está preparando aqui, não posso antecipar, acredito que nem ele pois não está tudo certo. Vai vir muita coisa boa. Novidades, trajeto inédito. Nós fizemos um pré-levantamento. O Lúcio está em negociação com esse trajeto, cidades na região. Olha: se der tudo certo como estamos planejando, esse primeiro dia será um sucesso nos Ipês!
Pode revelar uma história legal, curiosa, dos bastidores da prova?
Sempre tem. Eu me lembro que em uma cidade próxima aqui de Lavras que não vou falar o nome, eu passei abrindo a prova com Evandro Losseti e meu falecido amigo Tunico Maciel, em 2012. Já estava chegando à cidade quando eu vi um saco de ração balançando, como se estivesse solto no meio do mato. Fiquei intrigado, voltei lá, abri. Em baixo dele tinha um pedaço de madeira batido com uma marreta e no trilho. Não sei o que houve, se iam fazer algo, tirei isso de lá pra gente passar na prova e evitar que um piloto sofresse algum risco.
No mesmo dia, combinamos com o staff, que não chegou pra ficar na porteira, e aí tivemos que negociar pra tentar seguir com a prova, deu certo. Aí comentei com o Tunico que eles iam sair dois minutos na frente do piloto 1. Recuperamos tempo e acabou que deu tudo certo. São histórias muito legais.
Tunico ia muito com vocês? Participava da prova ou ficava na organização?
Tunico participou de muitas provas como piloto e já nos ajudou muito na conferência e levantamento das provas, além do abre prova. Depois dele, estou há uns 6 ou 7 anos com meu amigo Sayron Marcelino que eu gostaria de deixar um agradecimento especial. Me acompanha e me ajuda. A equipe de provas é coordenada por mim e pelo Sayron. Somos os principais e quem nos acompanha varia um pouco a cada ano. A ideia é que cada abre-prova abra uma planilha, um trajeto.
Você tem contato com os pilotos da região que sabem que você faz organização da prova? Eles ficam perguntando como será?
Sempre os pilotos perguntam. Participo de algumas provas do Mineiro e Sul Mineiro, então temos sempre contato com os pilotos. Eles perguntam como está a prova, como vai ser. Acho muito bom, muito saudável porque, claro, não tenho fins lucrativos, faço porque gosto e sou amigo do Lúcio e tenho muito carinho pelo esporte.
Texto: Misto Quente Comunicação
Fotos: Arquivo Pessoal, Ângelo Savastano e Léo Tavares
Coordenação: Lúcio Pinto Ribeiro